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Gota a gota, toda a água conta

Portugal está cada vez mais exposto à falta de água. O consumo excessivo, as atividades agrícolas e industriais e o desperdício são fatores que ameaçam este recurso tão precioso, que está também ameaçado pela poluição e pelas alterações climáticas.

Portugal tem obrigatoriamente de alterar, de forma radical e rápida, a maneira de gerir os seus recursos hídricos. Com as situações de seca a serem cada vez mais frequentes, há muitos esforços que podem ser feitos para reduzir o desperdício e tornar o consumo mais eficiente, protegendo os recursos hídricos disponíveis. Para isso, é fundamental o papel das autarquias na gestão sustentável da água – seja aquela que é utilizada pelos munícipes ou a que faz parte dos recursos naturais locais –, sendo o desenvolvimento dos territórios definido maioritariamente a nível local.

A poluição dos recursos hídricos é umas das maiores ameaças para o meio ambiente e, como tal, deve ser objeto de avaliação e ação. Neste contexto, uma das principais preocupações deve prender-se com a existência de Estações de Trata-mento de Águas Residuais adequadas às atuais exigências, de modo a terem capacidade de tratamento, tanto na ver¬tente de quantidade como nos aspetos da qualidade.
“Esta estratégia permitirá reduzir os impactos ambientais e, simultaneamente, promover a utilização de Águas para Reutilização (ApR). Estas podem contribuir para assegurar o desenvolvimento de outras atividades económicas, compatíveis com a qualidade da ApR, e o custo da produção deste tipo de água”, destaca Carlos Coelho, membro da Direção da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH).

O papel das autarquias na gestão da água é fundamental, visto o desenvolvimento dos territórios ser maioritariamente definido a nível local

Mas, claro, há muito mais que pode (e deve) ser feito para garantir, tanto atual¬mente como para as gerações futuras, a disponibilidade de água com qualidade e em quantidade. É também importante que os cidadãos tomem consciência do esforço global que todos temos de fazer, individualmente, para que se reduza o consumo de água e o seu desperdício, fazendo escolhas individuais que sejam mais sustentáveis.

Por fim, também os investimentos têm de ser pensados de um ponto de vista sustentável. “As autarquias têm o poder de atrair investimentos e de os licenciar. Estes investimentos irão impactar no consumo de água das diferentes regiões”, dessa forma, os municípios devem “pré-avaliar a viabilidade dos diferentes investimentos, face às disponibilidades hídricas existentes, nas origens de água destes territórios, e às reservas de água já garantidas pelo licenciamento de recursos hídricos”, explica Cláudia Brandão, também da Direção da APRH.

Planos de gestão de seca e escassez

Se, para a APRH, nos últimos anos, “a água tem sido tratada com menos relevância do que a energia ou o clima”, parece ter chegado a hora de dar a este recurso tão precioso a relevância que ele merece. Em primeiro lugar, a associação defende que se releve “o nexus água, energia e alimentos”. “Estes três elementos são interdependentes e essenciais para o desenvolvimento sustentável do planeta, pelo que, cada um precisa ser utilizado racionalmente para não comprometer a capacidade de todos”.

Depois, há que cumprir escrupulosamente aquilo que a lei já nos diz. Tendo como base a Lei da Água, a Agência Portuguesa do Ambiente criou um conjunto de planos e programas da água, que têm como objetivo a utilização sustentável deste recurso, de modo a satisfazer as necessidades atuais da população sem comprometer as das gerações futuras.

A poluição dos recursos hídricos é umas das maiores ameaças para o meio ambiente e, como tal, deve ser objeto de avaliação e ação

São “orientações e critérios para a qualidade ambiental e estado das águas e para a harmonização da gestão das águas e território associado com o desenvolvimento regional, as políticas setoriais, os direitos individuais e os interesses locais, estabelecendo ainda regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais que identificam as ações permitidas, condicionadas ou interditas em função dos respetivos objetivos”.

Tecnologias como uma mais-valia

A tecnologia tem sido um dos princi¬pais braços armados desta luta pela sobrevivência. A existência de mecanismos tecnológicos de medição dos consumos de água e controlo de fornecimento é uma mais-valia que já está disponível, uma vez que vai garantir o acesso a este recurso e à otimização da gestão dos circuitos hidráulicos.

“As tecnologias são instrumentos de suporte à produção, gestão e planeamento da produção, para além do controlo físico e económico”, confirma a associação. “Podem assegurar, igual¬mente, a resposta em tempo oportuno em caso de falhas e fugas de águas, minimizando as perdas de água. A tecnologia é traduzida na utilização de sen¬sores diversos, telegestão e de sistemas de informação, que obriga também a possuir recursos humanos devidamente capacitados”.

Por outro lado, a APRH acredita que, ainda assim, é fundamental adaptar os consumos de água ao tipo de utilização, por exemplo, “utilizar a água em horas com menores perdas de água por evaporação, instalar corretamente sistemas de rega em espaços públicos verdes e limitar a utilização da água para usos menos nobres”.

A água tem um alto valor económico, pois permite o desenvolvimento de diversas atividades, como a agricultura, indústria e turismo. Ao mesmo tempo, assegura a existência dos ecossistemas naturais, essenciais à vida humana. Não é por acaso que o sexto ponto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é precisamente “água e saneamento para todos até 2030”. Mas, até lá, existe um longo caminho que deve ser percorri¬do por todos, e todas as dimensões da água devem ser tidas em conta.